Terceira viagem missionaria de Paulo. Prega o evangelho em Epheso. Tumulto excitado por Demetrio.
19 E succedeu que, emquanto Apollo estava [1] em Corintho, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Epheso; e, achando ali alguns discipulos,
2 Disse-lhes: Recebestes vós já o Espirito Sancto quando crêstes? E elles disseram-lhe: [2] Antes nem ainda ouvimos que haja Espirito Sancto.
3 Disse-lhes então: Em que sois baptizados então? E elles disseram: [3] No baptismo de João.
4 Porém Paulo disse: [4] Certamente João baptizou com o baptismo do arrependimento, dizendo ao povo que crêsse no que após elle havia de vir, isto é, em Jesus Christo.
5 E os que ouviram foram baptizados [5] em nome do Senhor Jesus.
6 E, impondo-lhes Paulo [6] as mãos, veiu sobre elles o Espirito Sancto; [7] e fallavam diversas linguas, e prophetizavam.
7 E estes eram, ao todo, quasi doze varões.
8 E, [8] entrando na synagoga, fallou ousadamente por espaço de tres mezes, disputando e persuadindo [9] ácerca do reino de Deus.
9 Mas, endurecendo-se [10] alguns, e não obedecendo, [11] e fallando mal do caminho do Senhor perante a multidão, retirou-se d’elles, e separou os discipulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tyranno.
10 E durou [12] isto por espaço de dois annos; de tal maneira que todos os que habitavam na Asia, ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeos como gregos.
11 E Deus [13] pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinarias.
12 De tal [14] maneira que até os lenços e aventaes do seu corpo se levavam aos enfermos, e as enfermidades fugiam d’elles, e os espiritos malignos sahiam.
13 E [15] alguns dos exorcistas [16] judeos vagabundos tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espiritos malignos, dizendo: Esconjuramos-vos por Jesus a quem Paulo préga.
14 E os que faziam isto eram sete filhos de Sceva, judeo, principal dos sacerdotes.
15 Respondendo, porém, o espirito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; porém vós quem sois?
16 E, saltando n’elles o homem em que estava o espirito maligno, e assenhoreando-se d’elles, poude mais do que elles; de tal maneira que, nús e feridos, fugiram d’aquella casa.
17 E foi isto notorio a todos os que habitavam em Epheso, [17] tanto judeos como gregos; e caiu temor sobre todos elles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido.
18 E muitos dos que criam vinham, confessando [18] e publicando os seus feitos.
19 Tambem muitos dos que seguiam artes curiosas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos, e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cincoenta mil peças de prata.
20 Assim [19] a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.
21 E, [20] cumpridas estas coisas, Paulo [21] propoz-se, em espirito, ir a Jerusalem, passando pela Macedonia e pela Achaia, dizendo: Depois que houver estado ali, [22] importa-me vêr tambem Roma.
22 E, enviando á Macedonia dois d’aquelles que o [23] serviam, Timotheo [24] e Erasto, ficou elle por algum tempo na Asia.
23 Porém, [25] n’aquelle mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço ácerca do caminho do Senhor.
24 Porque um certo ourives da prata, por nome Demetrio, que fazia de prata nichos de Diana, [26] dava não pouco lucro aos artifices,
25 Aos quaes, havendo-os ajuntado com os officiaes de obras similhantes, disse: Varões, vós bem sabeis que d’este officio temos a nossa prosperidade:
26 E bem vêdes e ouvis que não só em Epheso, mas até quasi em toda a Asia, este Paulo tem persuadido e afastado uma grande multidão, [27] dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos.
27 E não sómente ha o perigo de que isto venha a servir-nos de desprezo, mas tambem de que o proprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, e de que a sua magestade, a qual toda a Asia e o mundo inteiro veneram, venha a ser destruida.
28 E, ouvindo-o, encheram-se de ira, e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos ephesios.
29 E encheu-se de confusão toda a cidade; e unanimes arremetteram ao theatro, arrebatando comsigo [28] a Gaio e [29] a Aristarcho, macedonios, companheiros de Paulo na viagem.
30 E, querendo Paulo apresentar-se ao povo, não lh’o permittiram os discipulos.
31 E tambem alguns dos principaes da Asia, que eram seus amigos, lhe enviaram, rogando que não se apresentasse no theatro.
32 Uns pois clamavam de uma maneira, outros d’outra, porque o ajuntamento era confuso; e os mais d’elles não sabiam por que causa se tinham ajuntado.
33 Então tiraram Alexandre d’entre a multidão, impellindo-o os judeos para diante; e Alexandre, [30] acenando com a mão, queria dar razão d’isto ao povo.
34 Porém, conhecendo que era judeo, todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço de quasi duas horas: Grande é a Diana dos ephesios.
35 Então o escrivão da cidade, tendo apaziguado a multidão, disse: Varões ephesios, qual é o homem que não sabe que a cidade dos ephesios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que desceu de Jupiter?
36 De sorte que, não podendo isto ser contradito, convém que vos applaqueis, e nada façaes temerariamente;
37 Porque estes homens que aqui trouxestes nem são sacrilegos nem blasphemam da vossa deusa:
38 Porém, se Demetrio e os artifices que estão com elle teem alguma coisa contra alguem, dão-se audiencias e ha proconsules: que se accusem uns aos outros;
39 E, se alguma outra coisa demandaes, averiguar-se-ha em legitimo ajuntamento.
40 Porque corremos perigo de que, por hoje, sejamos accusados de sedição, não havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso.
41 E, tendo dito isto, despediu o ajuntamento.