A Biblia Sagrada, Contendo o Velho e o Novo Testamento

Daniel na cova dos leões.

Antes de Christo 537

6 E pareceu bem a Dario [1] constituir sobre o reino a cento e vinte presidentes, que estivessem sobre todo o reino;

2 E sobre elles tres principes, dos quaes Daniel era um, aos quaes estes presidentes déssem conta, para que o rei não soffresse damno.

3 Então o mesmo Daniel sobrepujou a estes principes e presidentes; [2] porque n’elle havia um espirito excellente; porquanto o rei pensava constituil-o sobre todo o reino.

4 Então os principes e os presidentes procuravam achar occasião contra Daniel a respeito do reino; mas não podiam achar occasião ou culpa alguma; porque elle era fiel, e não se achava n’elle nenhum vicio nem culpa.

5 Então estes homens disseram: Nunca acharemos occasião alguma contra este Daniel, se não a acharmos contra elle na lei do seu Deus.

6 Então estes principes e presidentes foram juntos ao rei, e disseram-lhe assim: Ó rei Dario, [3] vive para sempre!

7 Todos os principes do reino, os prefeitos e presidentes, capitães e governadores, tomaram conselho afim de estabelecerem um edicto real e fazerem um mandamento firme: que qualquer que, por espaço de trinta dias, fizer uma petição a qualquer deus, ou a qualquer homem, e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões.

8 Agora pois, ó rei, confirma o edicto, e assigna a escriptura, para que não se mude, [4] conforme a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar.

9 Por esta causa o rei Dario assignou esta escriptura e edicto.

10 Daniel, pois, quando soube que a escriptura estava assignada, entrou na sua casa (ora havia no seu quarto [5] janellas abertas da banda de Jerusalem), e tres vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e confessava diante do seu Deus, [6] como tambem antes costumava fazer.

11 Então aquelles homens foram juntos, e acharam a Daniel orando e supplicando diante do seu Deus.

12 Então se chegaram, [7] e disseram diante do rei: No tocante ao edicto real, porventura não assignaste o edicto, que todo o homem que fizesse uma petição a qualquer deus, ou a qualquer homem, por espaço de trinta dias, e não a ti, ó rei, fosse lançado na cova dos leões? Respondeu o rei, e disse: [8] Esta palavra é certa, conforme a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar.

13 Então responderam, e disseram diante do rei: [9] Daniel, que é dos transportados de Judah, [10] não tem feito caso de ti, ó rei, nem do edicto que assignaste, antes tres vezes por dia faz a sua oração.

14 Ouvindo então o rei o negocio, [11] ficou muito penalisado, e a favor de Daniel propoz dentro do seu coração tiral-o; e até ao pôr do sol trabalhou por o salvar.

15 Então aquelles homens se foram juntos ao rei, e disseram ao rei: [12] Sabe, ó rei, que é uma lei dos medos e dos persas que nenhum edicto ou ordenança, que o rei determine, se pode mudar.

16 Então o rei ordenou que trouxessem a Daniel, e o lançaram na cova dos leões. E, fallando o rei, disse a Daniel: O teu Deus, a quem tu continuamente serves, elle te livrará.

17 E [13] foi trazida uma pedra, e foi posta sobre a bocca da cova; [14] e o rei a sellou com o seu annel e com o annel dos seus grandes, para que se não mudasse a sentença ácerca de Daniel.

18 Então o rei se foi para o seu palacio, e passou a noite em jejum, e não deixou trazer á sua presença instrumentos de musica; [15] e fugiu d’elle o somno.

19 Então o rei se levantou pela manhã cedo, e foi com pressa á cova dos leões.

20 E, chegando-se á cova, chamou por Daniel com voz triste; e, fallando o rei, disse a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo! [16] dar-se-hia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, te podesse livrar dos leões?

21 Então Daniel fallou ao rei: [17] Ó rei, vive para sempre!

22 O meu Deus [18] enviou o seu anjo, e fechou a bocca dos leões, para que não me fizessem damno, porque foi achada em mim innocencia diante d’elle; e tambem contra ti, ó rei, não tenho commettido delicto algum.

23 Então o rei muito se alegrou em si mesmo, e mandou tirar a Daniel da cova: assim foi tirado Daniel da cova, e nenhum damno se achou n’elle, [19] porque crêra no seu Deus.

24 Então ordenou o rei, [20] e foram trazidos aquelles homens que tinham accusado a Daniel, e foram lançados na cova dos leões, elles, [21] seus filhos e suas mulheres; e ainda não tinham chegado ao fundo da cova quando os leões se apoderaram d’elles, e lhes esmigalharam todos os ossos.

25 Então [22] o rei Dario escreveu a todos os povos, nações e linguas que moram em toda a terra: A paz vos seja multiplicada.

26 Da minha parte [23] é feito um decreto, que em todo o dominio do meu reino tremam todos e temam perante o Deus de Daniel; porque elle é o Deus vivo e permanecente para sempre, [24] e o seu reino não se pode destruir, e o seu dominio dura até ao fim.

27 Elle faz escapar e livra, e faz signaes e maravilhas no céu e na terra, o qual fez escapar a Daniel do poder dos leões.

28 Este Daniel, pois, prosperava no reinado de Dario, [25] e no reinado de Cyro, o persa.

[1] Est. 1.1.

[2] cap. 5.12.

[3] ver. 21. cap. 2.4.

[4] Est. 1.19 e 8.8. ver. 12, 15.

[5] I Reis 8.44, 48. Jon. 2.4.

[6] Act. 10.9.

[7] cap. 3.8.

[8] ver. 8.

[9] cap. 1.6 e 5.13.

[10] cap. 3.12.

[11] Mar. 6.26.

[12] ver. 8.

[13] Lam. 3.53.

[14] Mat. 27.66.

[15] cap. 2.1.

[16] cap. 3.15.

[17] cap. 2.4.

[18] cap. 3.28. Heb. 11.33.

[19] Heb. 11.33.

[20] Deu. 19.19.

[21] Est. 9.10. Deu. 24.16. II Reis 14.6.

[22] cap. 4.1.

[23] cap. 3.29.

[24] cap. 2.44 e 7.14, 27. Luc. 1.33.

[25] cap. 1.21. Eze. 1.1, 2.