A Biblia Sagrada, Contendo o Velho e o Novo Testamento

O decreto; o sonho do rei é interpretado por Daniel.

Antes de Christo 603

2 E no segundo anno do reinado de Nabucodonozor sonhou Nabucodonosor sonhos; [1] e o seu espirito se perturbou, e passou-se-lhe o seu somno.

2 E o rei mandou [2] chamar os magos, e os astrologos, e os encantadores, e os chaldeos, para que declarassem ao rei os seus sonhos: os quaes vieram e se apresentaram diante do rei.

3 E o rei lhes disse: Tive um sonho; e para saber o sonho está perturbado o meu espirito.

4 E os chaldeos disseram ao rei em syriaco: Ó rei, [3] vive eternamente! dize o sonho a teus servos, e declararemos a interpretação.

5 Respondeu o rei, e disse aos chaldeos: [ACR] A coisa me tem escapado; se me não fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, [4] e as vossas casas serão feitas um monturo;

6 Mas se [5] vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dons, e dadivas, e grande honra; portanto declarae-me o sonho e a sua interpretação.

7 Responderam segunda vez, e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e declararemos a sua interpretação.

8 Respondeu o rei, e disse: Conheço eu certamente que vós quereis ganhar tempo; porque vêdes que a coisa me tem escapado.

9 De maneira que, se me não fazeis saber o sonho, uma só sentença será a vossa; pois vós preparastes palavras mentirosas e perversas para as proferir na minha presença, até que se mude o tempo: portanto dizei-me o sonho, para que eu entenda que me podeis declarar a sua interpretação.

10 Responderam os chaldeos na presença do rei, e disseram: Não ha ninguem sobre a terra que possa declarar a palavra ao rei; pois nenhum rei ha, grande ou dominador, que requeresse coisa similhante d’algum mago, ou astrologo, ou chaldeo.

11 Porque a coisa que o rei requer é difficil; nem ha outro que a possa declarar diante do rei, [6] senão os deuses, cuja morada não é com a carne.

12 Por isso o rei muito se irou e enfureceu; e ordenou que matassem a todos os sabios de Babylonia.

13 E saiu o mandado, e sairam a matar os sabios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos.

14 Então Daniel fallou avisada e prudentemente a Arioch, capitão da guarda do rei, que tinha saido para matar os sabios de Babylonia.

15 Respondeu, e disse a Arioch, prefeito do rei: Porque se apressa tanto o mandado da parte do rei? Então Arioch fez saber a coisa a Daniel.

16 E Daniel entrou; e pediu ao rei que lhe désse tempo, para declarar a interpretação ao rei.

17 Então Daniel foi para a sua casa, e fez saber a coisa a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros:

18 Para [7] que pedissem misericordia ao Deus do céu, sobre este segredo, afim de que Daniel e seus companheiros não perecessem, juntamente com o resto dos sabios de Babylonia.

19 Então foi revelado o segredo a Daniel n’uma [8] visão de noite: então Daniel louvou o Deus do céu.

20 Fallou Daniel, e disse: Seja bemdito o nome de Deus desde o seculo até ao seculo, porque d’elle é a sabedoria e a força;

21 E elle muda [9] os tempos e as horas; elle remove os reis e estabelece os reis: [10] elle dá sabedoria aos sabios e sciencia aos entendidos.

22 Elle revela o profundo e o escondido: [11] conhece o que está em trevas, e com elle a luz mora.

23 Ó Deus de meus paes, te louvo e celebro eu, que me déste sabedoria e força; [12] e agora me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber [ACS] a coisa do rei.

24 Por isso Daniel entrou a Arioch, ao qual o rei tinha constituido para matar os sabios de Babylonia: entrou, e disse-lhe assim: Não mates os sabios de Babylonia; introduze-me na presença do rei, e declararei ao rei a interpretação.

25 Então Arioch depressa introduziu a Daniel na presença do rei, e disse-lhe assim: Achei um d’entre os filhos dos captivos de Judah, o qual fará saber ao rei a interpretação.

26 Respondeu o rei, e disse a Daniel (cujo nome era Belteshazzar): Podes tu fazer-me saber o sonho que vi e a sua interpretação?

27 Respondeu Daniel na presença do rei, e disse: O segredo que o rei requer, nem sabios, nem astrologos, nem magos, nem adivinhos o podem declarar ao rei;

28 Mas [13] ha um Deus nos céus, o qual revela os segredos; elle pois fez saber ao rei Nabucodonozor o que ha de ser [14] no fim dos dias; o teu sonho e as visões da tua cabeça na tua cama são estas:

29 Estando tu, ó rei, na tua cama, subiram os teus pensamentos, ácerca do que ha de ser depois d’isto. Aquelle pois [15] que revela os segredos te fez saber o que ha de ser.

30 E a mim, [16] não pela sabedoria que em mim haja, mais do que em todos os viventes, me foi revelado este segredo, [17] mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesse os pensamentos do teu coração.

31 Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estatua: esta estatua era grande, e o seu esplendor era excellente, e estava em pé diante de ti; e a sua vista era terrivel.

32 A cabeça [18] d’aquella estatua era de oiro fino; o seu peito e os seus braços de prata; o seu ventre e as suas coxas de cobre;

33 As pernas de ferro; os seus pés em parte de ferro e em parte de barro.

34 Estavas vendo, até que uma pedra foi cortada, [19] sem mão, a qual feriu a estatua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou.

35 Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o cobre, a prata e o oiro, [20] e se fizeram como pragana das eiras do estio, e o vento os levou, e não se achou logar algum para elles; mas a pedra, que feriu a estatua, se fez um [21] grande monte, e encheu toda a terra.

36 Este é o sonho; tambem a interpretação d’elle diremos na presença do rei.

37 Tu, [22] ó rei, és rei de reis: pois o Deus do céu te tem dado o reino, a potencia, e a força, e a magestade.

38 E onde [23] quer que habitem filhos de homens, bestas do campo, e aves do céu, t’os entregou na tua mão, e fez que dominasses sobre todos elles; [24] tu és a cabeça de oiro.

39 E depois de ti se levantará outro reino, [25] inferior ao teu; e outro terceiro reino, de metal, o qual dominará sobre toda a terra.

40 E [26] o quarto reino será forte como ferro; da maneira que o ferro esmiuça e enfraquece tudo, como o ferro, que quebranta todas estas coisas, assim esmiuçará e quebrantará.

41 E, quanto [27] ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; comtudo haverá n’elle alguma coisa da firmeza do ferro, porquanto viste o ferro misturado com barro de lodo.

42 E os dedos dos pés, em parte de ferro e em parte de barro, querem dizer: por uma parte o reino será forte, e por outra será fragil.

43 Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-hão com semente humana, mas não se apegarão um ao outro, assim como o ferro se não mistura com o barro.

44 Mas, nos dias d’estes reis, [28] o Deus do céu levantará um reino que não será jámais destruido; e este reino não será deixado a outro povo: [29] esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas elle mesmo estará estabelecido para sempre.

45 Da maneira [30] que viste que do monte foi cortada uma pedra, sem mãos, e ella esmiuçou o ferro, o cobre, o barro, a prata e o oiro, o Deus grande fez saber ao rei o que ha de ser depois d’isto; e certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.

46 Então [31] o rei Nabucodonozor caiu sobre o seu rosto, e adorou a Daniel, [32] e ordenou que lhe sacrificassem offerta de manjares e perfumes suaves.

47 Respondeu o rei a Daniel, e disse: Certo é que o vosso Deus é Deus de deuses, e o Senhor dos reis, e o revelador dos segredos, [33] pois podeste revelar este segredo.

48 Então o rei engrandeceu a Daniel, [34] e lhe deu muitos e grandes dons, e o poz por governador de toda a provincia de Babylonia, [35] como tambem por principe dos prefeitos sobre todos os sabios de Babylonia.

49 E pediu Daniel ao rei, [36] e constituiu elle sobre os negocios da provincia de Babylonia a Sadrach, Mesach e Abed-nego; [37] porém Daniel estava á porta do rei.

[1] Gen. 41.8. cap. 4.5. Est. 6.1. cap. 6.18.

[2] Gen. 41.8. cap. 5.7.

[3] I Reis 1.31. cap. 3.9 e 5.10.

[4] Esd. 6.11. cap. 3.29.

[5] cap. 5.16.

[6] ver. 28. cap. 5.11.

[7] Mat. 18.19.

[8] Num. 12.6. Job 33.15, 16.

[9] I Chr. 29.30. Est. 1.13. cap. 7.25 e 11.6. Jer. 27.5.

[10] Thi. 1.5.

[11] Heb. 4.13. Thi. 1.17.

[12] ver. 18.

[13] Gen. 40.8. ver. 18, 47. Amós 4.13.

[14] Gen. 49.1.

[15] ver. 22, 28.

[16] Gen. 41.16. Act. 3.12.

[17] ver. 47.

[18] ver. 38, etc.

[19] cap. 8.25. II Cor. 5.1.

[20] Ose. 13.3.

[21] Isa. 2.2, 3.

[22] Esd. 7.12. Isa. 47.5. Jer. 27.6, 7. Eze. 26.7, 8, 10.

[23] cap. 4.21, 22. Jer. 27.6.

[24] ver. 32.

[25] cap. 5.28, 31. ver. 32.

[26] cap. 7.7, 23.

[27] ver. 33.

[28] ver. 28. cap. 4.34. Miq. 4.7. Luc. 1.32, 33.

[29] Isa. 60.12.

[30] ver. 35. Isa. 28.16.

[31] Act. 10.25 e 14.13.

[32] Esd. 6.10.

[33] ver. 28.

[34] ver. 6.

[35] cap. 5.11 e 9.4.

[36] cap. 3.12.

[37] Est. 2.19, 21 e 3.2.