Novo dicionário da língua portuguesa

APPENSO GEOGRÁPHICO

INDÍCULO ALPHABETICO
DE VÁRIOS NOMES GEOGRÁPHICOS
QUE ANDAM ADULTERADOS OU INCORRECTAMENTE REPRODUZIDOS NA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA, E AÍNDA DE OUTROS, CUJA FÓRMA OFFERECE VARIANTES, MAIS OU MENOS ADMISSÍVEIS
EM VEZ DE PREÂMBULO

Na Revista Portuguesa Colonial e Marítima, de 20 de Outubro de 1898, publicou-se o seguinte artigo:

—«Não é questão nova, esta de se harmonizarem os inauferíveis direitos do idioma nacional com a nomenclatura geral da Geografia e, ainda, de outras sciências.

«Geralmente,—diga-se sem offensa,—os homens, que de preferência se dedicam á cultura e desenvolvimento das sciências, preoccupam-se mediocremente da fórma literária e, portanto, dos direitos da própria língua em que escrevem.

«A consequência é fácil de prever:—Aquelles, que os estudam e respeitam, confundem de ânimo leve a autoridade scientífica com a autoridade literária, e vão-lhes no encalço, muita vez ás cegas, cooperando amiúde, talvez inconscientemente, nos extravios e abastardamento de uma linguagem, cuja belleza immaculada nos devia de sêr crèdora do máximo respeito, não só por patriotismo, senão também por amor á arte.

«Um exemplo bastará, para comprovar o assêrto.

«Desde que na Europa é conhecida a cólera, ou cholera-morbo, todos os médicos, que bem conheceram a sua língua, attribuiram sempre àquella epidemia o gênero feminino; e, em revistas, em relatórios officiaes, nas cadeiras do magistério, nunca disseram nem escreveram senão a cólera ou a chólera.

«Vieram outros, menos escrupulosos e mais conhecedores do francês que do português, e, como em livros estrangeiros leram le cholera, concluíram disparatadamente que o que é masculino em Paris também o deve sêr em Lisbôa e Cabinda.

……………………………………………………………

«O facto é que, entre gente de certa cultura scientífica, mas de duvidosa cultura literária, é vulgar ouvir-se e ler-se o chólera, ou o cólera, e a massa do público, ingênuo e anónimo, vai papagueando o chólera, com uma inconsciência que faz pena.

* * * * *

«Facto análogo se dá com a nomenclatura geográfica. Como Portugal, país de ousados marinheiros e descobridores, não é precisamente, nos tempos que correm, um país de cartógraphos nem de didactas geográficos, os jornaes, o falar commum, os mappas e a própria didascálica official, andam inçados, não só de notáveis incorrecções onomásticas, mas até de êrros deploráveis.

«Creio têr-se já falado da necessidade ou opportunidade de se confiar o estudo e a resolução do assunto a um grupo ou commissão de competentes, que em o nosso vocabulário geográfico fizesse as modificações e correcções, que a língua portuguesa exige.

«Nada porém se fez até agora, supponho eu; e, em quanto os mais competentes se não abeiram da matéria, indicarei alguns pontos, que patenteiam a necessidade da revisão onomástica do alludido vocabulário.

«A um ou outro dêsses pontos já noutros lugares me tenho referido; mas nunca há demasia de referências, quando estas ferem chaga que se não cicatriza num dia.

* * * * *

«Certo, não dou novidade, referindo-me á sem-ceremónia, com que os nossos escritores e o público enjeitaram a portuguesa Samatra, ou Çamatra, para perfilhar a fórma exótica Sumatra.

«¿Não seria ainda tempo de restituirmos á palavra a sua fórma genuinamente portuguesa?

* * * * *

«Os nossos velhos escritores, que se occuparam do Oriente, falaram muitas vezes de Suaquem, junto ao Mar-Roxo. Lê-se geralmente Su-a-quém, mas parece que a pronúncia exacta será Su-á-quem.

«Como os Franceses representam por ou o nosso u, e por in o nosso em, representaram a palavra portuguesa por Souakin. Foi quanto bastou, para que o nosso patriotismo se esquecesse da prata de casa e se fôsse servir do pechisbeque estrangeiro.

«Souakin e Suakin é o que se lê hoje em mappas e livros nossos!

«Faria pena, se não causasse nojo.

* * * * *

«Felizmente, a generalidade dos nossos escritores ainda conserva Bombaím. Mas, sem citar nomes, porque a minha preoccupação não é de pessôas mas de ideias, não posso esquivar-me a denunciar, com muito sentimento, que, entre os autores de livros nossos, há quem tenha o desplante de inglesar a palavra, mascarando-a de Bombay!

«Que estranha ideia formam da escrita nacional alguns dos meus letrados compatrícios!

* * * * *

«É vulgaríssimo o lermos Algéria, em livros e jornaes, quando é certo que, em português, só se diz Argélia.

«Aquella França é que tem a culpa. Se até há quem escreva algeriano, (francês algerien), em vez do portuguesíssimo argelino!

«Por causa do francês, escreve-se, ás vezes, a respeito da cidade de Luques, que afinal é Luca; cita-se Bâle, que não é senão Basileia; e chega-se á perfeição de chamar Damas á cidade de Damasco!

«Da Itália também se tem importado o Livorno, cidade, cujo nome português é Liorne.

* * * * *

«São capitaes êstes e outros pontos. Accessórios, há muitíssimos, mas não despiciendos. Convém, por exemplo, corrigir as grafias Brazil, Suissa, Allemanha, etc., grafias usuaes mas incorrectas, que se não justificam perante a sciência da linguagem.

* * * * *

«Como se vê, e certamente no conceito de quantos se interessam pela língua portuguesa e pelo lustre da sciência, porque nenhuma sciência brilha, coberta de remendos, a revisão do nosso vocabulário geográfico não é apenas conveniente, é necessária.

«Não falta quem possa corrigir abusos, modificar usanças injustificáveis, normalizar praxes autorizadas.

«Não basta porém a competência individual. Tarefa tal tem de sêr collectiva, para se não evitar a discussão, e para que as conclusões tenham responsabilidade ampla e, portanto, mais autoridade que uma voz insulada, por mais alto que sôe.

«18—IX—98.

Candido de Figueiredo».

* * * * *

Em 16 de Janeiro de 1899, e em nome da secção de ensino geográphico da Sociedade de Geographia de Lisbôa, foi apresentado á assembleia geral desta corporação um parecer, redigido pelo eruditíssimo romanista Gonçalves Viana, e que terminava com os seguintes períodos sôbre nomenclatura geográphica:

……………………………………………………………

«A maior parte da antiga nomenclatura que usaram os nossos escriptores[10] desde o século XV, e mesmo antes, até o princípio do século actual, vae caindo em desuso ou sendo menosprezada, não se tendo na devida conta, ao escrever compendios, que êsse vocabulário e as fórmas genuinamente portuguesas de nomes próprios de mares, de rios, de terras, de povoações, de quaesquer localidades emfim, fazem parte essencial do léxico nacional, tão essencial, como as demais dicções da língua patria. A maioria, se não todos os compendios empregados no ensino geográphico, veem inçados de denominações estrangeiras ou estrangeiradas, mal formadas umas, falsas outras, illegíveis muitas dellas, e não poucas inúteis por já existirem na língua outras, ou melhór autorizadas por bons escriptores nossos, ou mais conformes com a índole e particularidades de pronúncia do idioma que falamos e sua orthographia tradicional, cujas feições týpicas são característico nacional de tamanha valia como outro qualquer dos que nos differençam dos outros povos.

Por isto julga a Secção da maior urgência que ao Govêrno se submettam as seguintes ponderações:

É de necessidade que se restabeleça nos compendios de geographia, de qualquer grau, a nomenclatura portuguesa empregada pelos escriptores do período áureo da nossa litteratura, e outros posteriores ao período de fixação de fórmas da língua portuguesa, modificando-se-lhes apenas as feições orthográphicas que sejam evidentemente reconhecidas como arcaicas ou erróneas; com a maior prudência, porém, para que da modificação não resulte alteração na pronúncia portuguesa de taes denominações. Para êste resultado, pelo menos parcial, há trabalhos feitos, alguns dêlles tabulares, como são, por exemplo: o «Roteiro da Costa d'África» de Castilho; os nossos antigos compendios de Geographia; «Geographia dos Lusíadas», do nosso fallecido consocio Borges de Figueiredo; a edição do mesmo poema feita em 1880 pelo nosso consocio Francisco Adolpho Coelho; as «Decadas» de João de Barros e Diogo do Couto, publicadas pela Imprensa Nacional de Lisbôa, acompanhadas de índices de fácil e rápida consulta; e sôbre nomenclatura arábica, e com toda a confiança, os eruditos trabalhos do nosso consocio David Lopes, dados á estampa por occasião do centenário do descobrimento do caminho marítimo da Índia, com o patrocínio da nossa Sociedade, nomeadamente o que trata da aljamia portuguesa, e o último publicado, «História dos portugueses no Malabar», que tem um índice alphabético, ao qual facilmente se póde recorrer.

«Há ainda outras obras de carácter mais especial, que conviria utilizar, mas que a Secção se abstem de mencionar, porque a levaria muito longe a resenha e sobretudo porque algumas dellas têm sido objecto de estudo ou de methodização por parte de vários membros da Secção.

«Apontará todavia ainda as publicações de carácter official anteriores a 1850, isto é, pertencentes a um período, no qual a innovação neste ponto se não havia ainda manifestado.

«Restabelecida por este modo a antiga e boa nomenclatura, ou as fórmas portuguesas das denominações geográphicas indicadas, pelo menos até onde se puderem por agora averiguar, restará ainda um cabedal copiosíssimo de outras denominações da mesma natureza, mas de origem moderna, ou não mencionadas em escritores nossos de boa nota nesta espécie, e para ellas urge igualmente fixar normas que evitem a sua multimoda deturpação, ou a sua escripta inútil e desarrazoadamente estrangeirada, ou infundadamente etymologica. Três ou quatro exemplos soltos darão ideia geral do pensamento da Secção a este respeito.

«A fórma portuguesa consagrada do nome de uma cidade e de um Império no Norte da África é Marrocos, sendo para notar que é de todas as conhecidas a que mais se aproxima da pronunciação arábica deste nome. Modernamente, porém, apparece outra fórma a pretender substituí-la, quando se quer designar especialmente o nome da cidade, distincção futil que os Mouros não fazem, e cuja escripta não contém elementos de leitura claros para portugueses: é Marrakesch. Esta fórma é de origem alemã e muito recente.

«As regras de duplicação de consoante estão, na orthographia portuguesa denominada etymologica, subordinadas actualmente á existência de taes geminações no idioma do qual foi, ou é, tomada a fórma portuguesa do vocábulo, e nem sempre. O que é irracional e infundadamente complicado é figurar na denominação portuguesa uma duplicação de letras que não existe nas línguas originaes, nem por ellas se explica. Assim, é êrro escrever-se Iacca, Benguella, por Iaca, Benguela.

«Ás línguas africanas usadas em domínios nossos, quer da família cafrial, quer dos vários grupos de idiomas falados ao Norte do Equador, é peculiar uma nasalização, em certas circumstâncias, de várias consoantes iniciaes, Ntessa, Mbundo, por exemplo. É frequente vêr escriptos estes nomes com um apóstropho a preceder, ou a seguir, o que peor é, o m ou o n. Tal sinal orthográphico, cujo emprego em português se limita a indicar, em certos casos, a suppressão de uma letra, não deve sêr usado para designar outro facto, e a verdade é que nenhuma letra há supprimida em taes nomes, nem antes, nem depois do m ou n. A romanização portuguesa legítima destes vocábulos africanos já os nossos escriptores a fixaram há muito, e convém que os tomemos por modelos: antepunham uma vogal que fizesse sýllaba com êsse m ou n, como os nomes Angola, Ambundo, e outros testificam.

«O x denotou sempre na península Espânica, com excepção única do castelhano moderno (desde o XVII século) o som que em português se lhe dá nos vocábulos xadrez, xairel: cumpre, portanto, que esta letra substitúa incondicionalmente, em todas as transcripções e translitterações de nomes estrangeiros, escriptos com outros alphabetos que não sejam o romano ou o gótico, as barbaras escriptas sh, sch, inglesa a primeira, alemã a segunda, e que nenhuma pronunciação indicam para portugueses. O mesmo se deverá fazer em relação a w e y, que serão substituidos por u, i, como fez Heli Chatelain, na orthographia do quimbundo; o mesmo ainda a respeito de k em vez de c ou qu, de oo ou ou em vez de u, e de ch, que só deve sêr mantido para indicação do som que representa nos falares das Beiras, do Minho e de Trás-os-Montes, análogo ao ch castelhano e inglês, e sempre representou em português, até o princípio deste século. Deste modo, Tchad, Kamtchatka devem sêr escritos em português Chad, Camchatca, seja qual fôr a pronunciação que se lhes dê; qualquer outra escripta é barbara, como o é Shiraz por Xiraz, Nyassa por Niassa, Tanganyika por Tanganhica.

«Nem para tal regularização da escripta de nomes estrangeiros geográphicos ou pessoaes nos deve estorvar a allegação, tantas vezes repetida e nunca documentada, de que os nossos antigos autores escreviam esses nomes como os ouviam, e que os ouviam mal; visto que o mesmo fizeram e fazem os escriptores estrangeiros, a quem imitamos, ao usarem em tal representação gráphica os caracteres latinos, ou outros, aos quaes davam e dão o valor que têm na língua de cada um delles, ou um valor convencional, que varia conforme os autores, ainda mesmo que pretenda ser scientífico.

«Apresentaremos um exemplo que é de molde para convencer. Os nossos chronistas da Ásia escreveram Coge Çofar, e em modernos escriptos vemos o mesmo nome orthographado Khwadja Safar. A pronunciação, porém, á parte o som inicial que não existe em português e que portanto tão bem está indicado por c como por kh, se é que o não está melhor, a pronunciação, pois, é muito mais conforme em persa com a nossa antiga escripta e pronuncia, do que com a supposta translitteração moderna: a letra u não a proferem os Persas depois daquella inicial; o a longo pronuncía-se como o, e o a final mal se ouve e está conseguintemente muito bem representado por e mudo. Assim a fórma Coge, como representação gráphica da pronúncia persa para portugueses, é muitíssimo mais fiel do que a fórma Khwadja, a qual é um verdadeiro enigma para todos.

«O mesmo podemos dizer com relação á extravagante forma Sikokf, de origem hollandeza, que não é mais que o imperfeitíssimo arremedo da fórma portuguesa Xicoco, a qual reproduz com a maior fidelidade a pronúncia japonesa deste nome.

«As differentes nações europeias possuem orthographias suas para a transcripção dos nomes geographicos e pessoaes estranhos: applicam essas transcripções os Franceses, os Ingleses (nem sempre com coherência), os Alemães, os Italianos, etc, e em todas ellas é o valor alphabetico que as letras romanas obtiveram na língua de cada uma dellas, que constitue a base dessa transcripção, como constituía para a dos nossos antigos autores o valor dessas letras em português. Os nossos vizinhos espanhoes fixaram já, em trabalhos históricos, geográphicos e outros, a escripta castelhana dos nomes arábicos, ao adoptarem a transcripção de Eguílas Yangas, quási toda baseada no valor tradicional dado na península hispânica ao alphabeto romano. Urge, portanto, que nós os portugueses, que tantos nomes fizemos conhecidos em virtude da narração dos nossos descobrimentos e conquistas na África e na Ásia, não só recuperemos o cabedal esperdiçado, mas também, tomando-os por modelos, e continuando a tradição, apenas interrompida há uns cincoenta anos, por esses padrões pautemos a escripta dos que êlles não mencionaram, ou não conheceram.

«Outra necessidade impreterível do ensino geográphico, como do histórico, consiste em indicar-se em todos os compendios a pronúncia portuguesa de todos os nomes próprios, visto como em tal ensino convém não deixar introduzir erros, que difficilmente se corrigem ao depois. Devem, pois, ser todos esses nomes graphicamente accentuados na sua syllaba predominante, para o que se terão sempre presentes as regras da accentuação latina, modificadas pelas leis que as regem em português. O discípulo, e também o professor, (que não podemos exigir que seja um philologo encyclopedico), o primeiro para aprender certo, o segundo para não ensinar errado, devem encontrar sempre nos compendios indicada a accentuação, para que não pronunciem, como a todo o momento ouvimos, por exemplo, Taygéto, Ladóga, Ônega, Cagliári, Gibráltar, Quilôa, em vez das accentuações verdadeiras, que são Taýgeto, Ládoga, Onéga, Cágliari, Gibraltár, Quíloa; e bem fôra que se restabelecesse a verdadeira accentuação portuguesa em outros nomes, como Madagáscar, evidente na medição do verso dos Lusíadas em que apparece o nome da maior ilha africana, (á qual os nossos primeiramente puseram nome São Lourenço), como a de Quíloa também o é.[11]

«Se não exorbitasse a Secção da parte do ensino que lhe incumbe, não duvidaria de instar igualmente pela accentuação de todos os nomes technicos nos respectivos compendios, e nomeadamente pela accentuação de todos os nomes pessoaes historicos, bem como pela restituição e revindicação das fórmas portuguesas tradicionaes, a respeito daquelles que já nos apparecem trajados estranhamente, sobretudo á alemã, ou com um grupo de letras insignificativas e impossíveis em português, taes como: bh, dh, kg, wy, hm, etc.; devendo accrescentar que seria da maior vantagem e conveniência didáctica que esses nomes figurassem já accentuados no texto, e que houvesse, além disso, para maior commodidade da consulta, um indice alphabetico de todos elles, ao cabo de cada volume, no qual se reproduzissem com a devida accentuação marcada, e a pronunciação portuguesa em casos de dúvida.

«Com relação a nomes não romanizados nem romanizaveis á portuguesa, de igual importancia parece á Secção que seria a indicação, por letras portuguesas, da sua pronúncia aproximada, mencionada entre parenthese, no texto e no indice, como vemos em geographias escolares estrangeiras, e até em livros nossos. E não se cuide que o ensino simultaneo, principalmente do francês, e o do alemão ou inglês, obviará á incerteza que resulta para a pronunciação da falta de accentuação gráphica e de pronúncia, porque não só o conhecimento dessas línguas induz em erro se taes nomes lhes são estranhos, mas também porque os nomes proprios que lhes pertencem são, em muitos casos, excepções ás regras que lhes regulam a leitura.

«Vemos em compendios anteriormente publicados exemplos de dois subsídios que apontámos, e consta á Secção que êsses subsidios foram muito bem acceitos pelo nosso professorado, e tanto que a falta delles foi já assinalada como defeito capital em um dos livros adoptados para o ensino secundario, conforme a última reforma delle.

«Ninguem duvidará, de certo, de que a revindicação, correcção e fixação da orthographia dos nomes próprios geographicos, historicos e outros, e a indicação da sua accentuação ou pronuncia, são trabalho que exige noções muito especiaes e devido preparo, ao mesmo passo que, em muitas circunstâncias, laboriosas pesquisas, segurança de methodo e bastante circunspecção.

«Não falta, comtudo, nesta Sociedade, ou pelo menos em Portugal, quem o possa empreender e levar a cabo, coadjuvando-se mutuamente diversas pessoas, aquellas que com tal objecto tem, com apropriadas habilitações previas, applicado o seu estudo a esse assumpto. A Secção já citou o nome de um consocio, que para a nomenclatura arabica poderia concorrer com a sua competencia, já provada neste ramo pela transcripção systemática que escrupulosamente fixou nos trabalhos que mencionámos, e a qual, se descontarmos minutíssimos accidentes em que talvez foi longe de mais no aportuguesamento orthográphico, se póde considerar como modêlo. Sabido é tambem que outro nosso consocio adoptou, com respeito á nomenclatura cafrial, nos volumes que publicou á cêrca da Lunda, uma transcripção vulgar irrepreensível e methodica; como tambem se não ignora que na mesma Sociedade existe quem possa, com a devida autoridade, consagrar-se á regularização da nomenclatura da India portuguesa, e outras asiaticas. Se aqui, pois, se trabalhar neste empenho, poderá sem duvida, em breve prazo, submetter-se ao Governo um plano geral de romanização portuguesa, acompanhado dos competentes nomenclatores; corrigindo-se, porem, desde já o que se puder de prompto corrigir e consignando-se, por inclusão nos respectivos programas para concurso de livros de ensino, a condição expressa e indeclinavel de que a nomenclatura seja, quanto possível, sujeita a correcção motivada pelos competentes jurys, verdadeiramente portuguesa e devidamente accentuada. Conviria além disso que, entre parenthese, nos casos necessarios, se indicassem, nos mesmos compendios, as denominações nacionaes, conforme a orthographia propria de cada uma das nações que se servem do alphabeto romano ou do gótico, todas as vezes que a identificação ás fórmas aportuguesadas não seja evidente, ou quando haja mais de uma denominação autorizada, como acontece, por exemplo com Autuerpia e Anvèrs, á imitação do que se costuma fazer nos bons diccionarios geographicos, e até em vocabularios bilingues.

Por outra parte, convém semelhantemente que até a escripta dos nomes geographicos portugueses do continente e ilhas adjacentes soffra tambem uma revisão e uniformização methodica, para que esses sejam igualmente corrigidos. Escriptas taes com Foya, com y, a par de Azoia, com i, Monsão, em vez de Monção, etc, devem desapparecer de livros de ensino; primeiro porque manifestam incongruencia, segundo porque habituam o espirito do alumno á idéa de que a escripta é assumpto de escassa importancia.

…………………………………………………………… ……………………………………………………………

O relator,

A. R. Gonçalves Viana.

A

*Abássia*, f. Ant. O mesmo que Abyssínia. Cf. Lusíadas, X, 50; Barros, Déc., (passim)

*Abdera*, () cidade thrácia. (Lat. Abdéra)

*Abido*, antiga cidade egípcia. (Lat. Abýdos)

*Abidos*, (não *Ábidos*) antiga cidade egýpcia. (Lat. Abýdos)

*Ábila*, antigo nome de Ceuta.

*Abranches*, (e não *Avranches*), cidade francesa. Cf. Lusíadas, IV, 25.

*Abydo*, antiga cidade egýpcia. (Lat. Abýdos)

*Abydos*, antiga cidade egýpcia. (Lat. Abýdos)

*Ábyla*, antigo nome de Ceuta.

*Abyssínia*, grande região da África Oriental, conhecida também em português pelo nome de Abássia.

*Achém*, (não *Achim*) antigo reino, na ilha de Samatra. Cf. Fr. José do Sacramento, Chrón. dos Carmelitas Descalços.

*Achemênia*, (que) nome, dado por poétas á Pérsia. Cf. Lusíadas, IX, 60. (Lat. Achaemênia)

*Ádem*, (e não *Aden*) cidade e pôrto da Arábia. Cf. Hist. dos Port. no Malabar, p. 95; Barros, Déc. II, liv. III, cap. 3; Lusíadas, X, 99.

*Ádige*, rio da Itália. (Do lat. Áthesis)

*Ádria*, antiga cidade da Itália.

*Afaganistão*, região da Ásia.

*Afeganistão*, região da Ásia.

} *Afghanistan*,
Fórma bárbara de Afeganistão.
(V. Afeganistão)

*Ainão*,
ilha do mar da China. Cf. Lusíadas, X, 129; M. Godinho, Caminho da
Índia
.
(Fórmas estranhas, Hai-Nan, Hainan)

*Aires*, (e não *Ayres*) povo do concelho de Marvão.

*Aisne*, (éne) departamento francês.

*Aix*, (éss) cidade francesa.

*Alanos*, (não *Álanos*) antigo povo da Scýthia, que invadiu a Gállia no séc. V. (Lat. Alani)

*Alanquer*, o mesmo ou melhór que Alenquer. Cf. R. Pina, Affonso V, c. XXXI; Lusíadas, III, 61.

*Alão-quer*, (outra fórma de Alanquer)

*Albion*, (álbion) nome indígena da Gran-Bretanha.

*Alcouchete*, (outra fórma de Alcochete, villa de Portugal). Cf. Peregrinação, XCI.

*Alemanha*, (e não *Allemanha*) nação europeia. Cf. Lusíadas, III, 11; VI, 69. (Lat. Alemannia)

*Alemquer*,
Orthogr. usual, mas injustificável.
(V. Alenquer)

*Alemtejo*,
Orthogr. moderna e menos aceitável que Alentejo.
(V. Alentejo)

*Alemtém*, Fórma usada, mas injustificável, em vez de Alentém. Cf. L. Cardoso, Diccion. Geogr.

*Alencastro*, cidade inglesa. Cf. Lusíadas, VI, 46. (Ingl. Lancaster)

*Aquemênia*, nome, dado por poétas á Pérsia. Cf. Lusíadas, IX, 60. (Lat. Achaemênia)

*Alenquer*, villa do districto de Lisbôa.—Modernamente, por uma falsa comprehensão da composição da palavra, e pela errada pronúncia dos que a imaginam composta de àlém e quer, escreve-se, geral e insensatamente, Alemquer. Na formação da palavra não entra o adv. àlém: é palavra de origem árabe e aínda no século XVI se escrevia Alanquer. Cf. L. Cardoso, Diccion. Geogr.; Barros, Déc. I, liv. III, cap. 9; Figueiredo, Lições Práticas, vol. I.

*Alentejo*, uma das províncias de Portugal.—A antiga escrita portuguesa da palavra, o valor comparativo das duas líquidas m e n, a pronúncia vulgar da palavra como simples, etc., tudo aconselha a preferência de Alentejo a Alemtejo. Cf. L. Cardoso, Diccion. Geogr.; Couto, Déc. IV, liv. VII, cap. 14.

*Alentém*, aldeia do concelho de Guimarães.

*Alexandría*, cidade do Egypto.—Alexândria é prosódia italiana e inglesa, errónea. (Lat. Alexandría)

*Alger*,
(Fórma afrancesada, em vez de Argel)

*Algéria*,
(Fórma afrancesada, em vez de Argélia)

*Alijó*,
m.
Villa trasmontana.
Fórma archaica, Legioo. Cf. Portug. Monum. Hist., p. 605.

*Allegany*, (áleganei) cordilheira da América do Norte.

*Allemanha*,
(Fórma usual, mas inexacta, em vez Alemanha. V. Alemanha)

*Almodóvar*, villa de Portugal.

} *Altenbourg*,
(V. Altenburgo)

*Altenburgo*, cidade aleman.

*Áltona*, cidade aleman.

*Amacuça*, ilha do Japão.

} *Amakoussa*,
(V. Amacuça)

} *Amsterdám*,
(V. Amsterdão)

*Amsterdão*, cidade da Holanda.

*Aname*,
Estado da Índia transgangética. Cf. G. Viana, Apostilas, vb. bonzo.

*Anciães*,
(V. Ansiães)

* *Ancóna*, cidade italiana. (Lat. Ancóna)

*Andaluzia*, (e não *Andalusia*)
região meridional da Espanha.
Em latim bárbaro Vandalitia, do nome dos Vândalos, que alli habitaram.
(Cp. ár. andalos)

} *Anderney*, ilhota inglesa, que os Franceses e os francesistas chamam Aurigny. (Cp. Aurigny)

*Angoleima*, cidade francesa. Cf. Castro, Paráfrase, 45.

*Angolema*, o mesmo que Angoleima.

*Angora*, (Angóra, não Ângora) cidade da Turquia Asiática. (Do lat. Ancyra)

} *Angoulême*, (v. Angoleima)

*Annám*, (v. Aname)

*Annão*, (v. Aname)

*Ansiães*,
povoação trasmontana.
É fórma preferível á hoje usada, Anciães.
No lat. medieval Ansianes, (séc. XI e XII).

*Antívari*, cidade da Albânia.

* *Antínoe*, antiga cidade do Egypto. (Lat. Antínoe)

* *Antínoi*, antiga cidade do Egypto. (Lat. Antínoe)

*Antuérpia*, cidade da Holanda, que, em português, algumas vezes se tem chamado Anveres.

*Anveres*, (v. Antuérpia)

*Aónia*,
Designação poética da Beócia. Cf. Lusíadas, V, 87.
(Lat. Aónia)

} *Aracan*, (v. Arracão)

*Árcole*, (não Arcóle) cidade italiana.

*Argel*, cidade capital da Argélia. Cf. Eufrosina, 223. (Do ár. aljezair)

*Argélia*, colónia francesa da África setentrional.

} *Arkiko*, (v. Arquico)

*Aceiceira*, povoação do districto de Santarém. Dantes, predominava a fórma Aceiceira. Cf. L. Cardoso, Diccion. Geogr. o mesmo ou melhór que Asseiceira. (V. Asseiceira)

*Arómata*, (outro nome do cabo Gurdafui). Cf. Lusíadas, X, 97.

*Arquico*, pôrto nas vizinhanças de Maçuá, designado nos mappas modernos por Arkiko. Cf. Lusíadas, X, 52.

*Arracão*, Nome de um antigo reino da Índia. Cf. Lusíadas, X, 122. (Aracan é fórma hodierna, mas estranha).

*Arraiolos*, (não Arrayollos) villa de Portugal.

*Arroios*, (e não *Arroyos*)
Nome de uma freguesia de Lisbôa.
Cp. arroio.

*Arroyos*,
Escrita tradicional, mas injustificável, em vez de Arroios.
(V. Arroios)

*Arsinário (cabo)*,
Designação antiga do Cabo-Vêrde. Cf. Lusíadas, V, 7.

*Artabro*,
Designação antiga do cabo Finisterra. Cf. Lusíadas, IV, 28.
(Lat. Artabrus)

*Arundel*, (árandel) cidade inglesa.

*Arzila*, (melhór escrita que *Arzilla*) cidade africana. Cf. Filinto, D. Man., I, 260 e 340.

*Assaboro*,
Designação antiga do Moçandão. Cf. Lusíadas, X, 102.
(Cp. Moçandão)

*Asseiceira*, povoação do districto de Santarém. Dantes, predominava a fórma Aceiceira. Cf. L. Cardoso, Diccion. Geogr.

*Assúcar*,
É assim que, nalguns livros de Geographia, e por uma confusão facilmente
explicável, se nomeia a cidade de Sucre, na Bolívia.
(V. Sucre)

*Atlante*, o mesmo ou melhór que Atlas. Cf. Lusíadas, III, 73.

*Atlas*,
grande montanha da África setentrional, que em português se chama
Atlante.
(Cp. Atlante)

*Áurea-Chersosoneso*, (quer) o mesmo que Malaca. Cf. Lusíadas, II, 54.

} *Aurigny*, (orinhi) Nome francês de uma ilhota do mar da Mancha, pertencente aos Ingleses, e que êlles chamam Anderney. É êste o nome que lhe devemos dar, á falta de nome português.

*Austerlitz*, (áusterliz) cidade austríaca.

*Avis*, (e não *Aviz*) villa do Alentejo.—Não encontro justificação para o z final. Em português antigo, a palavra não tem z. Cf. Port. Mon. Hist., 595; Car. Michaëlis, Uma obra do Condestável, 2.

*Avranches*, (v. Abranches)

*Áxio*, (csi)
Nome antigo do Vardar. Cf. Lusíadas, III, 13.
(Lat. Áxius)

*Ayres*, Fórma inexacta de Aires. Advirta-se que Barros, não obstante sêr de uma época em que dominava a fórma ditongal ay, ey, oy…, escreveu Aires. Cf. Dec., (passim).

B

*Babelmândeb*, (não *Babelmandéb*) estreito de mar, entre a Arábia e a Abyssínia.

*Baçaim*, cidade marítima da Índia. Cf. Lusíadas, X, 61. (Em livros modernos, Bassein)

*Bachão*, uma das Molucas.

*Bactro*,
rio do Turquestão. Cf. Lusíadas, II, 53.
(Nos mappas de hoje, Balkh, ou Balkh-Déria)
(Lat. Bactrus)

*Baffin*, (báfin') gôlfo na América do Norte.

*Bagdad*,
Designação usual da cidade, que em português se chama Bagodad.
(V. Bagodad)

*Bagodá*,
Designação usual da cidade, que em português se chama Bagodad.
(V. Bagodad)

*Bagodad*, Designação portuguesa e antiga da cidade da Turquia asiática, conhecida hoje geralmente por Bagdad.

} *Bahrém*, (v. Barèm)

*Balça*,
Nome de várias povoações portuguesas.
Balsa usa-se hoje, mas não se usava nem é fórma justificável. Cf. L.
Cardoso, Diccion. Geogr.

*Balcans*,
Melhór orthogr. que Balkans.
(Cp. Balkans)

} *Bâle*, Nome francês da cidade de Basileia, disparatadamente usado ás vezes entre nós.

} *Balkans*,
Designação generalizada da grande montanha que vai do Adriático ao
Mar-Negro.
Não se restabelecendo o nome clássico de Hemo, será preferível
escrevermos Balcans.
(Cp. Hemo)

} *Balkh*, (v. Bactro)

*Balochistão*, Fórma talvez mais portuguesa que Beluchistão, visto que os Baloches, segundo Barros, são os habitantes da respectiva região. Cf. Déc., III, liv. VII, cap. 2.

*Balsa*, (v. Balça)

*Baltimore*, (Báltimor) cidade americana.

*Bantam*, cidade de Java.

*Barborá*, cidade ao sul do gôlfo de Ádem. Cf. Lusíadas, X, 50. (Designação moderna, Berberá. Alguns diccion. geográphicos portugueses dizem Berbera, como em francês)

*Bardés*, província da Índia portuguesa. Cf. Peregrinação, VIII.

*Barém*, região da Arábia. Cf. Lusíadas, X, 41. (Em livros e mappas nossos, Bahrem e até Bahrein!)

*Baroce*, região da África austro-central.

*Barotze*,
(Orthogr. bárbara, em vez de Baroce. V. Baroce)

*Baroze*, (v. Baroce)

*Basileia*, cidade e cantão da Suíça. (Lat. Basilea)

} *Bassein*, (v. Baçaim)

*Batecalá*, cidade da Índia. Cf. Lusíadas, X, 66. (Chamam-lhe hoje Batkul)

*Baticalá*, cidade da Índia. Cf. Lusíadas, X, 66. (Chamam-lhe hoje Batkul)

} *Batjan*, (v. Bachão)

} *Batkul*, (v. Baticalá)

*Bélgia*,
Fórma des. de Bélgica. Cf. Filinto, D. Man., I, 342.

*Bélgica*, nação europeia.

*Bella-Ilha*,
Nome português de uma ilha da França, sôbre o Atlântico.
(Fr. Belle-Isle)

} *Belle-Isle*,
Nome francês de Bella-Ilha.
(V. Bella-Ilha)

*Beluchistan*,
Fórma bárbara de Beluchistão.

*Beluchistão*, região da Ásia. (V. Balochistão)

*Beja*, cidade do Alentejo. Em documentos antigos, lê-se Begia. Cf. Port. Mon. Hist., 640.

*Benares*, (não *Benarés*) grande cidade indiana.

*Benguela*, (e não *Benguella*)
cidade de Angola.
Na representação escrita do quimbundo, a que pertence aquelle termo, não
há duplicação de consoantes.

*Benomotapa*,
(Outra fórma de Monomotapa). Cf. Lusíadas, X, 93.

*Beócia*, região da Grécia. (Cp. Aónia)

*Berberá*, (v. Barborá)

*Berna*, (e não *Berne*) cidade da Suíça.

} *Berne*,
Fórma afrancesada, que muitos entre nós empregam, em vez de Berna.

*Bétis*,
Designação antiga de Guadalquivir.

*Bidassôa*, rio de Navarra.

*Bié*, região da África meridional.

*Bihé*, (v. Bié)

*Bijagós*, (v. Bissagos)

*Bijagoz*, (v. Bissagos)

} *Bintang*, (v. Bintão)

* *Bintão*, pôrto e ilha, ao sul de Singapura. Cf. Lusíadas, X, 57. (Nos modernos livros de Geographia, Bintang)

*Bisnaga* (e não *Bisnagá*, como escreveram alguns) região da Índia. Cf. David Lopes, Chron. dos Reis de Bisnaga, p. XXVII.

*Bissagos*, archipélago na costa da Guiné. Cp. Dórcadas.

*Bombaim*, cidade da Índia inglesa.

} *Bombay*,
Fórma estranha, em vez de Bombaim.
(V. Bombaim)

*Bona*, cidade da Prússia, á beira do Rheno.

} *Bonn*, (v. Bona)

*Bons-Sinaes (Rio dos)*,
Nome, que os Portugueses deram primitivamente ao Zambeze. Cf. Lusíadas,
V, 78.

*Borbão*, ilha do Oceano Índico. Cf. Garcia de Resende, Miscellânea.

} *Bordeaux*, (v. Bordéus)

*Bordéus*, cidade da França. (Fr. Bordeaux)

*Borístenes*, grande rio da Rússia, mais conhecido hoje por Dniepre. (Lat. Borýsthenes)

*Borýsthenes*, grande rio da Rússia, mais conhecido hoje por Dniepre. (Lat. Borýsthenes)

*Bósforo*, (v. Bósporo)

*Bósphoro*, (v. Bósporo)

*Bósporo*,
Nome do estreito, também conhecido por estreito de Constantinopla; e
nome do estreito, que liga o Mar-Negro ao de Azof.
(Lat. Bosporos, gr. Bosporos)

*Bourbon*, (v. Borbão)

*Brasil*, (e não *Brazil*) nação da América do Sul. (Do nome do pau brasil, que, segundo a opinião mais segura, deriva de brasa, que se não deve escrever com z). Cf. Peregrinação, XXXVII ; Lusíadas, X, 63.

*Brazil*,
(Fórma incorrecta, em vez de Brasil)

*Brindes*, (e não *Bríndisi*) cidade da Itália, sôbre o Adriático. (It. Brindisi, do lat. Brundisium)

} *Bríndisi*, (v. Brindes)

*Bronsuíque*, cidade aleman.

} *Brunswick*, (v. Bronsuíque)

*Buçaco*,
serra de Portugal.
A orthogr. antiga e exacta é Buçaco.
(Do b. lat. Buzaccum)

*Bucara*, (bu-cá-ra) cidade asiática. (Cp. fr. Boukhara)

*Buenos-Aires*, capital da República Argentina.

*Buenos-Ayres*,
Fórma incorrecta de Buenos-Aires.
(V. Buenos-Aires)

*Bussaco*, (v. Buçaco)

*Butan*,
Fórma bárbara de Butão.

*Butão*, região da Ásia.

*Byzâncio*, (e não *Bysâncio*, como alguns escrevem)
Designação antiga da cidade que hoje se chama Constantinopla.
(Lat. Byzantium)

C

*Cabo-Verde*, cabo da costa occidental da África, conhecido antigamente por Arsinário. (Cp. Arsinário)

*Cabul*, (e não *Kabul*) rio da Ásia.

*Cachó*,
Designação antiga da Cochinchina. Cf. Conquista do Pegu, I.

*Çafim*, antiga cidade berbére. Cf. Filinto, Vida de D. Man., II, p. 7.

} *Cagliari*, (v. Cálari)

*Çahará*, o mesmo ou melhór que Sahará. Cf. Barros, Déc. I, liv. I, cap. 2. grande região da África, ao sul de Marrocos, Argélia e Tunes.

*Çáhara*, o mesmo ou melhór que Sahará. Cf. Barros, Déc. I, liv. I, cap. 2.

*Calaiate*, região da Arábia. Cf. Lusíadas, X, 41. (Em livros modernos, Kallat)

*Cálari*, cidade principal da Sardenha. (It. Cagliari)

*Calecu*, o mesmo ou melhór que Calecut: «Ricos em Calecu…» Lusíadas, IX, 10. Cf. G. Vicente, Auto da Índia.

*Calecut*, cidade da costa occidental da Índia. Cf. Filinto, Vida de D. Man., I, p. 253.

*Calecute*,
Fórma preferível a Calecut. Cp. Calecut. Cf. Hist. dos Port. no
Malabar
, p. 91.

*Calicut*, (v. Calecut)

*Çamatra*,
Outra fórma, talvez a mais exacta, de Samatra. Cf. Not. para a Hist. e
Geogr.
, II, p. 375; Barros, Déc. III, liv. V, cap. 1; Couto, Déc. IV,
liv. III, cap. 1.

*Cambodja*,
Fórma bárbara de Camboja.
(V. Camboja)

*Camboja*, rio e região da Ásia meridional.

*Cambraia*, cidade da França. (Fr. Cambray)

} *Cambray*, (v. Cambraia)

*Camchatca*, grande península da Sibéria oriental.—A fórma Kamtchatka, usada por geógraphos, não se justifica em português.

*Çamora*, (e não *Samora*) cidade da Espanha. Cf. R. Pina, Aff. V, c. CLXXX. (Cast. Zamora)

*Çamora-Correia*, villa do districto de Santarém. (Usa-se Samora-Correia, incorrectamente. Cp. Çamora)

*Canaan*, (e não *Chanaan*)
Designação antiga daquella parte da Palestina, que ficava a Oéste do
Jordão.
(Lat. Canaan)

*Çanagá*, o mesmo ou melhór que Senegal. Cf. Barros, Déc., (passim)

*Çanagal*, o mesmo ou melhór que Senegal.

*Candahar*, cidade do Afeganistão, conhecida dos chronistas portugueses por Candar. (V. Candar)

*Candar*, o mesmo ou melhór que Candahar. Cf. Barros, Déc. IV, liv. IV, cap. 1.

*Canosa*, cidade italiana, antigamente Canúsio.

} *Cantorbery*, (v. Cantuária)

*Cantuária*,
f.
Cidade inglesa, antiga capital do reino de Kent.
(Em ingl. Cantorbery)

*Canúsio*,
Nome antigo de Canosa. Cf. Lusíadas, IV, 20.
(Lat. Canusium)

*Çaragôça*,
f.
Cidade da Espanha.
Bôa e antiga orthogr. Cf. Eufrosina, act. I, sc. 2; Filinto, Vida de D.
Man.
, I, p. 61.

*Cária*, província da Ásia-Menor. (Lat. Cária)

*Carmânia*,
antiga província da Pérsia. Cf. Lusíadas, IV, 65.
(Nos livros modernos, Kerman)
(Lat. Carmania)

*Carnac*, (e não *Karnak*) aldeia egýpcia, situada onde foi Thebas. Cf. Freund, vb. Thebae.

*Cárpathos*, cadeia de montanhas, ao norte da Hungria.

*Cárpatos*, cadeia de montanhas, ao norte da Hungria.

*Carpella*, cabo da Carmânia, o mesmo que Jasque. Cf. Lusíadas, X. 105.

*Cartum*, capital do Sudão egýpcio.

*Casével*, povoação portuguesa.

*Castello-Branco*, cidade da Beira-Baixa. Em documentos antigos lê-se Castelbranco. Cf. Port. Mon. Hist., 566.

*Catgão*, cidade da Índia. Cf. Lusíadas, X, 121. (Nos mappas modernos, Chitagong)

*Cauchinchina*, o mesmo ou melhór que Cochinchina. Cf. Lusíadas, X, 129.

*Cebta*, o mesmo que Ceita.

*Ceia*, Hoje, fórma usual que se dá ao nome de uma villa da Beira-Baixa. O lat. bárbaro dizia Sena e os nossos escritores antigos escreviam Seia. Cf. Herculano, Hist. de Port. O S não soava como C, e portanto devemos suppor que escrita exacta é Seia.

*Ceilám*, (outra fórma de Ceilão). Cf. Not. para a Hist. e Geogr., II, 353.

*Ceilão*, (e não *Ceylão*) grande ilha do mar das Índias. Cf. Hist. dos Port. no Malabar, 112; Not. para a Hist. e Geogr., tomo V; Lusíadas, X, 107.

*Ceita*,
Antiga designação portuguesa de Ceuta.

*Cepta*, Fórma antiga de Ceuta. Cf. Barros, Déc.; R. Pina, João II; Azurara, Chrón. de D. Pedro; etc.

*Cérigo*, ilha do Mediterráneo, ao Sul da Grécia, antigamente Cythera. (Cp. Cythera)

*Cernache*,
Nome de duas povoações portuguesas.
Parece que a fórma Cernache é a mais exacta; é pelo menos a mais antiga.
Cf. L. Cardoso, Diccion. Geogr.

*Cernancelhe*, () villa da Beira-Alta. Tem-se usado as duas variantes; Cernancêlhe porém é mais antiga e talvez mais exacta.

*Ceuta*, promontório e cidade forte na costa setentrional da África. Fórma antiga, Cepta.

*Cevennas*, (e não *Cevennes*) montes de França. (Do lat. Cevenna ou Cebenna)

} *Cevennes*,
Nome francês dos Cevennas.

*Chad*, grande lago da África.—A orthogr. Tchad, usada por geógraphos, não se justifica em português.

*Champá*, costa da Arábia, a Sudoéste. Cf. Lusíadas, X, 129. (Em livros modernos, Tsiampá)

*Champanha*, região do norte da França. (Fr. Champagne)

*Changhai*, (v. Xangai)

*Chatigão*, o mesmo que Catigão.

*Chaves*, villa trasmontana.—A fórma archaica era Chávias. Cf. Portug. Monum. Hist., 686. A terminação as harmonizava-se mais com a etym. flávias (águas).

} *Cherbourg*, (v. Cherburgo)

*Cherburgo*, cidade e pôrto da França.

*Chile*, nação hispano-americana.

*Chíli*, (v. Chile)

*Chiraz*,
Fórma afrancesada, indiscretamente usada por alguns, em vez de Xiraz.
(V. Xiraz)

*Chire*, (v. Xire)

} *Chittagong*, (v. Catigão)

*Choramândel*, costa oriental da Índia.

*Coramândel*, costa oriental da Índia.

*Chypre*, ilha do Mediterrâneo. A fórma, hoje usual, é Chypre, á francesa; mas a fórma exacta, em português, é Cypro ou Cipro. (Lat. Cyprus)

*Cinfães*, (e não *Sinfães*) villa da Beira-Alta. Em documentos do séc. XI, Cinfanes e Cimphanes.

*Cingapura*, o mesmo ou melhór que Singapura. Cf. Barros, Déc. II, liv. VI, cap. 1; Lusíadas, X, 125. Cidade e ilha da Ásia.

*Cintra*, villa do districto de Lisbôa.—Antigamente, pelo menos até o século XVII, só se usou a fórma Sintra e ás vezes Sintria ou Syntria, o que é poderoso argumento contra a fórma moderna Cintra, visto que o C e S iniciaes se não confundiam na pronúncia como hoje. Cp. Ceia.

*Cipro*, o mesmo ou melhór que Chipre. Cf. Lusíadas, V, 5; X, 48. ilha do Mediterrâneo. A fórma, hoje usual, é Chypre, á francesa; mas a fórma exacta, em português, é Cypro ou Cipro. (Lat. Cyprus)

*Clarença*, cidade da Moreia. (Fr. Clarence)

*Coblença*, cidade da Prússia.

} *Coblentz*, (v. Coblença)

*Cochinchina*, região asiática, na península Indo-China. (Cp. Cauchinchina)

*Çocotorá*,
o mesmo ou melhór que Socotorá. Cf. Not. para a Hist. e Geogr., tomo
II, (Livro de Duarte Barbosa).
Ilha do mar das Índias.

*Çofala*, o mesmo ou melhór que Sofala. Cf. Not. para a Hist. e Geogr., II., 162 e 233; Filinto, Vida de D. Man., I, 379; Barros, Déc. I, liv. IV, cap. 3.

*Colombo*,
Fórma errada, algures usada em vez de Columbo.
(V. Columbo)

*Columbo*, (e não *Colombo*) cidade de Ceilão. Cf. Couto, Déc., (passim); Lusíadas, X, 51.

*Comori*, o mesmo que Comorim. Cf. Lusíadas, X, 107.

*Comorim*, (v. Cori). Cf. Lusíadas, X, 65.

*Conca*, serra ou serras da Espanha: «…o Tejo…, que das serras de Conca vem manando…» Lusíadas, IV, 10. (Cast. Cuenca)

*Conisberga*, cidade da Prússia.

*Constantinopla*,
capital da Turquia.
Os antigos escreviam Constantinópola, que é orthogr. mais exacta. Cf.
Couto, Déc. IV, liv. VIII, cap. 9.

*Constantinópola*, o mesmo ou melhór que Constantinopla.

*Coraçan*, (e não *Khorassan*) região da Pérsia.—Podia, e deveria, escrever-se Coração, mas esta escrita sería um tanto prejudicada pela homophonia do substantivo commum, coração.

*Coraçone*, o mesmo ou melhór que Coraçan. Cf. Peregrinação, CXXIV.

*Cori*, cabo meridional do Indostão, conhecido geralmente por Comorim. Cf. Lusíadas, X, 107.

} *Cornouailles*,
Fórma francesa de Cornualha.

*Cornualha*, condado da Inglaterra. (Ingl. Cornwall)

*Coromandel*, (v. Choramândel)

*Coulão*, cidade marítima do Malabar. Cf. Lusíadas, VII, 35. (Em livros modernos Culan)

*Covilhã*, cidade da Beira-Baixa.

*Covilhan*, cidade da Beira-Baixa.

*Crato*, villa do Alentejo. Fórma archaica, Ocrate. Cf. Portug. Monum. Hist., 624.

*Çuaquém*, o mesmo ou melhór que Suaquém. Cf. Lusíadas, X, 97.

} *Cuenca*, (v. Conca)

*Çuez*,
(Cp. Suez)

*Cuiabá*, cidade de Mato-Grosso, no Brasil. (Fórma usual, mas injustificável, Cuyabá)

} *Culan*, (v. Coulão)

*Çunda*,
Outra fórma de Sunda. Cf. Not. para a Hist. e Geogr., II, p. 375.

*Çurate*,
o mesmo ou melhór que Surate. Cf. Not. para a Hist. e Geogr., II, p.
280.
Cidade da Índia Inglesa.

*Çurrate*, o mesmo que Surate.

} *Cutch*, (v. Jaquete)

*Cuyabá*, (v. Cuiabá)

*Cypro*, o mesmo ou melhór que Chypre. Cf. Lusíadas, V, 5; X, 48. ilha do Mediterrâneo. A fórma, hoje usual, é Chypre, á francesa; mas a fórma exacta, em português, é Cypro ou Cipro. (Lat. Cyprus)

*Cythera*, o mesmo que Cérigo. Cf. Lusíadas, I, 100.

*Cyzica*, Fórma disparatada, mal traduzida do fr. Cyzique, e que apparece em livros nossos, em vez de Cýzico.

*Cýzico*, antiga e célebre cidade da Ásia-Menor. (Lat. Cyzicum)

D

*Dahomé*, (e não *Dahomey*) região da Nigrícia marítima, sôbre a costa dos Escravos.

*Dardânia*, o mesmo que Tróia. Cf. Lusíadas, III, 57. (Lat. Dardânia)

*Decám*, (e não *Dekan*) a parte meridional da Índia, aquém do Ganges. Cf. Hist. dos Port. no Malabar, 95 e 98.

*Decan*, (e não *Dekan*) a parte meridional da Índia, aquém do Ganges. Cf. Hist. dos Port. no Malabar, 95 e 98.

*Decão*, (e não *Dekan*) a parte meridional da Índia, aquém do Ganges. Cf. Hist. dos Port. no Malabar, 95 e 98.

*Delhi*, (v. Deli)

*Deli*, (e não *Delhi*) grande cidade do Indostão. Cf. D. Lopes, Chron. dos Reis de Bisnaga, p. XXI; Barros, Déc. I, liv. IV, cap. 7.

*Dio*, ilha do mar das Índias, como uma cidade do mesmo nome. Cf. Filinto, Vida de D. Man., II, 117; Déc. II, liv. II, cap. 9; Lusíadas, II, 50; X, 35, 60, 61, 62, 64 e 67.

*Diu*, (v. Dio)

} *Djask*, (v. Jasque)

} *Djeddah*, (v. Gidá)

} *Djelum*, (v. Hydaspes)

} *Dniéper*, (v. Borýsthenes)

} *Dniepre*, (v. Borýsthenes)

*Dófar*,
cidade e pôrto da Arábia. Cf. Lusíadas, X, 101; Barros, Déc,
(passim).
(Em livros modernos, Doufar)

*Doiro*,
rio, que nasce em Espanha e atravessa Portugal, banhando o Pôrto.
Melhor orthogr. que Douro: «…e desy pela agoa de Doyro a enfesto
D. Dinis, Foral de Miranda.
Cp. ant. Durio, lat. Durius.

*Dórcadas*, o mesmo ou melhór que Bissagos. Cf. Lusíadas, V, 11.

*Douro*, (v. Doiro)

*Dresda*, cidade aleman, capital do reino de Saxe.

} *Dresde*, (v. Dresda)